Eduardo Ritter
Dançando valsa no pagode
Nesta semana, totalmente por acaso, descobri que meu ex-aluno do curso de Jornalismo que trabalha na edição da Central de Jornalismo da Rede Globo, Michel Farias, estava de passagem por Pelotas. Acabei atrapalhando as férias dele para que fizesse um bate-papo com os alunos de telejornalismo e rádio, disciplinas ministradas pelos colegas-professores Marislei Ribeiro e Paulo Cajazeira, respectivamente. Depois da conversa, entreguei-lhe meu livro de contos e crônicas, "Dançando valsa no pagode", publicado pela Insular em 2022. Como minha memória falha com cada vez mais frequência, no dia seguinte peguei o livro para reler algumas crônicas e tive uma surpresa positiva comigo mesmo: acredito que eu escrevia melhor anos atrás em comparação com hoje.
"Qualquer homem pode ser gênio aos vinte e cinco anos: aos cinquenta fica bem mais difícil", já escreveu Bukowski, depois de velho. É exatamente isso: quando somos novos, nosso cérebro borbulha com novas ideias, planos, sonhos, hormônios a flor da pele, megalomanias, egocentrismos geniais sem censura, etc. Depois, na medida em que nos aproximamos dos 40, a poeira começa a baixar. Com 41 já não tenho o pique que tinha quando escrevi os contos e crônicas que estão no livro e que coloquei no papel quando tinha 26, 28, 30 anos... Em uma das crônicas, conto sobre a maratona de circular anúncios de emprego nos classificados da Zero Hora e partir para filas de desempregados todas as segundas-feiras na capital gaúcha. No final do texto, prometo: "um dia vou deixar de ser um cara fu...". Financeiramente, até deixei de ser um sujeito completamente ferrado, como era quando trabalhei entregando panfletos na Otávio Rocha para ganhar 100 pilas por semana mais 50 pilas pro busão. Mas espiritualmente e fisicamente, eu estava em situação privilegiada em relação a qualquer sujeito que se encontre com a minha idade.
Uma coisa, no entanto, sempre tive clareza: como professor, sempre soube que iria aprender tanto quanto ensinar. Com mais de dez anos de experiência em sala de aula, cada aluno e cada turma me proporcionaram uma compreensão mais profunda sobre minha profissão e sobre a vida. Um dos privilégios que um professor pode experimentar é o de se sentar na sala e ouvir seu ex-aluno ministrando uma aula e, além disso, absorver muitos conhecimentos com a explicação e relatos de experiência dele. Essa foi exatamente minha situação nesta semana: sentei-me e ampliei minha compreensão sobre minha profissão por meio da exposição de um cara que, dez anos atrás, pedia-me arrego no prazo para entregar o trabalho final do semestre...
E assim, no maluco palco da existência, desenrola-se a intrigante trama da vida: enquanto alguns se deixam envolver pelas ilusões da superioridade, acreditando que seus postos elevados ou suas riquezas os elevam acima dos outros, há aqueles que sabem saborear cada momento desta louca jornada pela Terra com a clara compreensão de que, ao baixar as cortinas, todos os personagens desta história são exatamente iguais. Ou ainda, parafraseando o título do meu livro, vamos nos levar um pouco menos a sério e vamos, por alguns momentos, deixar as aparências de lado para dançar a valsa da vida como se estivéssemos no mais descontraído e divertido dos pagodes.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário